Capítulo 34: "Final"



Em Jequitibá da Mata, Divino recebeu um envelope enviado por Heitor. Dentro havia um cheque e uma carta onde Heitor rogava – em nome de todos os seus irmãos – o perdão pela irresponsabilidade do pai que nunca o reconhecera como filho e escondera o fato de toda a família. Pedia ainda que aceitasse o cheque cujo valor era equivalente à parte de Divino na herança deixada pelo pai.
Com esse dinheiro, Divino conseguiu terminar seus estudos, completando-os na cidade de Rio de Janeiro. Montou uma pequena clínica em Jequitibá da Mata e uma vez por mês prestava assistência gratuita ao Hospital Psiquiátrico onde morreu Maurício.
Passaram-se alguns anos e o desenvolvimento chegou devagarzinho em Acemira: a cidade finalmente ganhara iluminação pública! E um projeto que resgata a memória da cidade também foi aprovado pelos vereadores, dando à população um pequeno museu que abriga vários objetos do tempo que Acemira ainda não tinha sido inundada, e também outros objetos mais novos, doados pela população. Adriana doou as pinturas de Maurício, que agora fica em exposição permanente. E o belo quadro que retrata Cecília ao lado do cactus está pendurado na Sala de Recepções do Museu.
Mas o Gramofone de Getúlio ficou esquecido no porão da casa da Sede, onde foi guardado pela família e nunca mais de lá foi retirado, desde que se tornou obsoleto. É um local de difícil acesso. Com o abandono da Fazenda Águas Frias, ninguém sabe que permanece lá. Só eu.
Porém, a canção de Cecília ganhou melodia, que Adriana compôs com muita criatividade! E interpretada na bonita voz de um cantor famoso, por muitos anos ela foi tocada nas paradas de sucesso, inclusive transmitida repetidas vezes pela “Rádio Mineira” de Belo Horizonte, uma Rádio que por setenta anos funcionou na capital mineira sintonizando na frequência AM-690, e que teve muita audiência pela excelente qualidade de seus programas, mas que infelizmente veio a encerrar suas atividades após um longo período de decadência, quando a expansão das rádios FM e o mau estado de suas precárias instalações na Rua José de Alencar, por fim decretaram sua extinção. (*)
Do lucro gerado pela canção, Adriana ajudou na economia de seus irmãos, que juntos compraram uma pequena, porém, aconchegante casa, para abrigar a velhice dos pais.